B. LOPES
(1859-1916)
Bernardino da Costa Lopes nasceu no arraial de Boa Esperança (Rio Bonito), Província do Rio de Janeiro. Casado, desorganizou sua vida por motivos de ordem sentimental e entregou-se ao álcool. Foi ridicularizado no fim da vida por conta de um soneto infeliz, de louvor ao marechal Hermes da Fonseca.
PARAÍSO PERDIDO
Outro, não eu, que desespero, ao cabo
De, em pedrarias de arte e versos de ouro,
Ter dissipado todo o meu tesouro,
Como os florins e as jóias de um nababo;
Outro, não eu, que para o chão desabo
Esquecendo-te as culpas e o desdouro,
E a teus pés de marfim, como o rei mouro
Em torrentes de lágrimas acabo;
Outro conspurca-te a beleza augusta,
Cujo anseio de posse ainda me custa
Como um verme faminto andar de rastros.
E mais deploro este meu sonho falso
Ao recordar que andei no teu encalço
Pelo caminho rútilo dos astros!
ORGULHO
Este, que me sustém e que me eleva
Ao Pindo, leve como um grão de trigo,
E com a força viril do braço amigo
A um golpe irado me remiu da treva;
Este, que o sangue do meu brio ceva
E, fascinado, por desertos sigo,
Monstro de alma e razão, calma e perigo,
Que só pode cair sob os pés de Eva;
Este, que me sacode fibra a fibra
E a largos berros o meu nome vibra
Da garganta infernal na áspera tuba,
É, da selva do Dante, em que mergulho,
O meu fulvo, potente e ousado orgulho,
— Leão soberbo sacudindo a juba ...
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